sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A Morte do Touro Mão de Pau (Ariano Suassuna)

Corre a Serra Joana Gomes

galope desesperado:

um touro se defendendo,

homens querendo humilhá-lo,

um touro com sua vida,

os homens em seus cavalos.


Cortava o gume das pedras

um bramido angustiado,

se quebrava nas catingas

um galope surdo e pardo

e os cascos pretos soavam

nas pedras de fogo alado,

enquanto o clarim da morte,

ao vento seco e queimado,

na poeira avermelhada

envolvia os velhos cardos.


Rasgavam a serra bruta

aboios mal arquejados

e, nas trilhas já cobertas

pelo pó quente e dourado,

um gemido de desgraça,

um gemido angustiado:


- "Adeus, Lagoa dos Velhos!

adeus, vazante do gado!

adeus, Serra Joana Gomes

e cacimba do Salgado!

O touro só tem a vida:

os homens têm seus cavalos"!


O galopar recrescia:

brilhavam ferrões farpados

e algemas de baraúna

para o touro preparados.

Seu Sabino tinha dito:

- "Ele há de vir amarrado"!


Miguel e Antônio Rodrigues,

de guarda-peito e encourados,

na frente do grupo vinham,

montados em seus cavalos

de pernas finas, ligeiras,

ambos de prata arreados.

E, logo à frente, corria

o grande touro marcado,

manquejando sangue limpo

nos caminhos mal rasgados,

cortadas as bravas ancas

por ferrões ensangüentados.


A Serra se despenhava

nas asas de seus penhascos

e a respiração fogosa

dos dois fogosos cavalos

já requeimava, de perto,

as ancas do manco macho

quando ele, vendo a desonra,

tentando subjugá-lo,

mancando da mão preada

subiu num rochedo pardo:


Num grito, todos pararam,

pelo horror paralisados,

pois sempre, ao rebanho, espanta

que um touro do nosso gado

às teias da fama-negra

prefira o gume do fado.

E mal seus perseguidores

esbarravam seus cavalos,

viram o manco selvagem

saltar do rochedo pardo:


-"Adeus, Lagoa dos Velhos!

Adeus, vazante do gado!

Adeus, Serra Joana Gomes

e cacimba do Salgado!

Assim vai-se o touro manco,

morto mas não desonrado"!


Silêncio. A Serra calou-se

no poente ensangüentado.

Calou-se a voz dos aboios,

cessou o troar dos cascos.

E agora, só, no silêncio

deste sertão assombrado,

o touro sem sua vida,
os homens em seus cavalos.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ParTiu... Mas e aí?

O PT protagonizou ontem no Conselho de Ética do Senado, mais um episódio difícil de se explicar quando olhamos para o passado e lembramos as bandeiras que levaram o partido ao poder.

Como disse o senador Flávio Arns (PT-PR) "A ética do PT foi jogada no lixo", e não foi nesse episódio dos processo contra o presidente do Senado que isso se deu. Se lembrarmos do caso da Prefeitura de Santo André, que culminou com o assassinato de Celso Daniel, veremos que a ideologia que norteou a caminhada do partido, há muito não passa de discurso e que não foi o poder que corrompeu o PT, mas a busca pelo poder que o levou a essa situação degradante.

Mas e aí? Olhando para frente, que impacto terá mais essa atitude "estranha" do PT no cenário político brasileiro, sobretudo nas eleições do ano que vem, que são o pano de fundo de tudo o que estamos vendo? Todas essas artimanhas PT/PMDB passarão incólumes ao crivo do eleitor? Principalmente aqueles quer percebem a política em função dos programas sociais que o governo lhes concede?

A candidatura da ex-ministra Marina Silva, agora no PV, pode dar sem sombra de dúvidas novas cores à disputa presidencial e talvez consiga despertar um olhar mais amplo para os que sustentam a popularidade do presidente Lula, amparado pelo Bolsa Família, que parece ter a força de redimí-lo de toda e qualquer atitude esdrúxula. Lula demonstra não se importar com nada, a não ser em concretizar seus projetos individuais de manutenção do poder, nem que tenha para isso que sacrificar o próprio partido que ajudou a fundar e está a um fio de se afundar.

Melancólico volta a ser o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que de novo grita, esbraveja, arrepia, mas não toma atitude. Triste. Pois uma pessoa que sempre demonstrou uma firmeza de convicções tão grande, inexplicavelmente se curva a tantos desmandos sem mostrar a coragem de colegas como Marina Silva, Flávio Arns e tantos outros que não traíram seus princípios e sobretudo seus eleitores, em detrimento de um partido que hoje mais do que nunca se apresenta no sentido literal da palavra.

Abraço!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Há luz no fim do túnel...

Clique no link abaixo e confira a notícia veiculada no portal Terra sobre o joven Max Jones de apenas 12 anos.

Ele mora em Orlando (Flórida) e criou um site que só transmite boas notícias.

É de dar inveja uma iniciativa dessa, muito embora o certo mesmo é dar os parabéns!

No meio de tantas notícias que insistem em querer nos levar à depressão, sempre surgem ações como essa, mostrando que de fato há luz no fim do túnel.

Abraço!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Está nas nossas mãos.

Esta crise que acompanhamos hoje envolvendo o Senado Federal, assim como tantas outras que vimos ao longo dos últimos anos, tem alguns estágios que também se repetiram nas turbulências que a precederam:

1º Estágio - Começam a aparecer no noticiário algumas denúncias meio perdidas, soltas... E nós ficamos observando, pra "ver no que vai dar".

2º Estágio - As notícias continuam e vão gradativamente ganhando intensidade. O sujeito ou sujeitos envolvidos começam a se agarrar nos seus cargos, dizendo que tem que apurar, mas que são inocentes e que não sabem, não viram e não conhecem nada e nem ninguém. Nesse momento, a gente começa a se indignar.

3º Estágio - A mídia vai apertando o cerco e começam a surgir os "lados da moeda", não me refiro a apenas os "dois lados da moeda" de propósito, pois no Brasil uma moeda pode ter mais de dois, já que a gente tem os que apóiam, os que são contra e os que vão esperar pra ver... Nossa indignação aumenta e começamos a dizer cheios de convicção que tudo isso é uma vergonha, que em Brasília ninguém presta mesmo e que não tem jeito, é só chegar no poder que as pessoas se deixam levar pelos conchavos, enfim "entram no jogo". É meio simplista esse raciocínio, mas é o que acontece.

4º Estágio - O sujeito ou sujeitos em questão se calam. Todo mundo fala. Quem é contra diz que tem que deixar o cargo, que é melhor para o país, para a instituição e até para quem está sendo acusado. Do outro lado, quem é do "time", diz que não há provas, que é injustiça, etc., etc., etc. Nossa indignação de 0 a 10, já está em 8 com picos de 9.

5º Estágio - Quem está na linha de tiro reage. Faz um discurso inflamado, que na maioria das vezes não diz coisa com coisa - ah! Esqueci de mencionar no estágio anterior o acusado dá sinais de que vai se render, mas fica só nos sinais - Voltando ao discurso, ele jura novamente que é inocente e reafirma: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira". Nessa altura numa escala de 0 a 10, a indignação já está em 11.

6º Estágio - A coisa toda começa a arrefecer. As notícias vão aos poucos minguando, os processos se arquivando e nós nos esquecendo...

Muito bem, vocês hão de concordar, que em maior ou menor grau, com poucas variações, tudo se desenrola dessa maneira, não muda muito. O que tem que mudar, nesse processo todo, somos nós. O que precisamos é sair da indignação e partirmos para a ação. Não estou falando aqui de desordem, estou falando de consciência e conscientização. Explico: precisamos ter consciência da nossa responsabilidade de cidadãos quando formos exercer nosso direito sagrado - o voto - porém muitas vezes por nós mesmos sub valorizado, de eleger aqueles que irão nos representar em todas as instâncias da esfera política. Necessitamos fazê-lo com propriedade, procurando conhecer de fato quem é o candidato que irá receber nosso voto, qual o seu histórico, quais são suas propostas e seu passado político é coerente com o seu presente?
Por outro lado, temos o dever também de buscar a conscientização daqueles com os quais convivemos e que ainda não têm uma visão madura e responsável sobre o processo eleitoral e a importância de um gesto de poucos segundos à frente da urna, mas que pode custar anos, décadas de atraso e de muita indignação para todo país. Lembrando porém, que conscientizar não é doutrinar. Portanto, o papel de quem acompanha e se preocupa com os desacertos políticos do país, não é de convencer ninguém a votar nesse ou naquele candidato, nesse ou naquele partido, mas sim o de mostrar a necessidade de colher informações e formar um juízo de valor sobre quem será escolhido para ser votado.

Teremos a oportunidade de renovar dois terços do Senado ano que vem e 100% da Câmara dos Deputados e das Assembléias Legislativas, além de escolher quem irá comandar o país e os estados da federação. Portanto, está em nossas mãos escolher bem e sofrer menos daqui por diante.
Abraço!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

É bom a gente não esquecer

Confiram no Blog do Noblat o que Collor pensava sobre Sarney nas eleições de 1989. Acesse o link: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/08/04/recordar-viver-que-collor-dizia-de-sarney-211049.asp

É impressionante como as pessoas mudam...

Abraço!